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sábado, 6 de janeiro de 2018

O vagante e a prostituta

As ruas escuras se encontram frias e humidas e uma fina chuva cai sobre o asfalto elameado e envelhecido. Um homem vaga sozinho pelas ruas, escurecido pelas sombras e iluminado apenas pelo brilho colorido dos neons e telões de publicidade. A decadência da cidade, obscura, distópica e opressiva sufoca os transeuntes, que vagam sem rumo pelas suas ruas. Pessoas sozinhas e sem sentido que vagam pela noite, após viverem durante o dia uma vida não vivida. O homem entra em um bar, compra um maço de cigarros e toma uma dose de wisky. Depois ele sai e vai em direção ao distrito noturno da cidade.
Em frente aos predios decadentes,  nas esquinas, ao lado de postes e na entrada dos bordéis, varias prostitutas se oferecem aos homens que vagam pela noite procurando prazer. Pobres, marginalizadas e exploradas elas esperam os seus clientes. Uma delas, vestida em uma pele de lobo que cobria suas curtas vestes negras, de cabelos também negros e com maquiagem obscura olha para o homem enquanto bate com a ponta dos dedos na extremidade de sua piteira, jogando as cinzas no chão. Em seu pescoço está dependurado um crucifixo prateado, unica herança de sua pobre mãe, morta pela fome a muitos anos.
O homem era seu cliente mais assíduo, frequentava o seu leito toda a semana, e com a renda proveniente apenas dele ela conseguia pagar metade do aluguel. Ele atravessou a rua e foi até ela. Depois de se cumprimentarem com um abraço, ambos caminharam pela rua de braços dados e se dirigiram até um velho predio, entraram e subiram as escadas.
Para ela, ele era o cliente com a fantasia mais exótica e absurda, mas em sua opinião, a mais interessante. Ambos chegaram ao andar superior, abriram a porta do velho apartamento. Ela retirou o casaco de peles, ficando apenas com sua lingerrie negra. Ela convidou ele para se sentar e serviu algo para beber. Ele retirou o dinheiro da carteira e o deixou em cima da mesa. Ela se sentou e eles conversaram. Depois de um tempo, ela o se levantou, o pegou pela mão,  o beijou e o levou para o quarto, retirando o casaco dele. Era chegada a hora de realizar a fantasia mais secreta de seu cliente,  aquele homem, a princípio duro e rude como todos os outros.
Então ela se sentou na beirada da cama e o puxou para perto dela. Ele então deitou em seu colo, junto a seu peito ornado pelo crucifixo. Ela então começou a contar uma história sobre terras de outro mundo, onde ela era a princesa e ele seu cavaleiro, onde não existiam tiranos ou miséria, onde eles poderiam escapar. Assim que ele ficou sonolento, ela cantou uma musica e o afagou, até que ele dormisse em seu colo. Ela então apagou a luz do abajour e se deitou sobre ele, adormecendo logo em seguida. Logo depois eles sonharam que caminhavam em terras distantes e fantásticas, onde todos os seus problemas desapareciam.

Em memória de J.R, meu cliente querido, que de cima de uma ponte se jogou.