As ruas escuras se encontram frias e humidas e uma fina chuva cai sobre o asfalto elameado e envelhecido. Um homem vaga sozinho pelas ruas, escurecido pelas sombras e iluminado apenas pelo brilho colorido dos neons e telões de publicidade. A decadência da cidade, obscura, distópica e opressiva sufoca os transeuntes, que vagam sem rumo pelas suas ruas. Pessoas sozinhas e sem sentido que vagam pela noite, após viverem durante o dia uma vida não vivida. O homem entra em um bar, compra um maço de cigarros e toma uma dose de wisky. Depois ele sai e vai em direção ao distrito noturno da cidade.
Em frente aos predios decadentes, nas esquinas, ao lado de postes e na entrada dos bordéis, varias prostitutas se oferecem aos homens que vagam pela noite procurando prazer. Pobres, marginalizadas e exploradas elas esperam os seus clientes. Uma delas, vestida em uma pele de lobo que cobria suas curtas vestes negras, de cabelos também negros e com maquiagem obscura olha para o homem enquanto bate com a ponta dos dedos na extremidade de sua piteira, jogando as cinzas no chão. Em seu pescoço está dependurado um crucifixo prateado, unica herança de sua pobre mãe, morta pela fome a muitos anos.
O homem era seu cliente mais assíduo, frequentava o seu leito toda a semana, e com a renda proveniente apenas dele ela conseguia pagar metade do aluguel. Ele atravessou a rua e foi até ela. Depois de se cumprimentarem com um abraço, ambos caminharam pela rua de braços dados e se dirigiram até um velho predio, entraram e subiram as escadas.
Para ela, ele era o cliente com a fantasia mais exótica e absurda, mas em sua opinião, a mais interessante. Ambos chegaram ao andar superior, abriram a porta do velho apartamento. Ela retirou o casaco de peles, ficando apenas com sua lingerrie negra. Ela convidou ele para se sentar e serviu algo para beber. Ele retirou o dinheiro da carteira e o deixou em cima da mesa. Ela se sentou e eles conversaram. Depois de um tempo, ela o se levantou, o pegou pela mão, o beijou e o levou para o quarto, retirando o casaco dele. Era chegada a hora de realizar a fantasia mais secreta de seu cliente, aquele homem, a princípio duro e rude como todos os outros.
Então ela se sentou na beirada da cama e o puxou para perto dela. Ele então deitou em seu colo, junto a seu peito ornado pelo crucifixo. Ela então começou a contar uma história sobre terras de outro mundo, onde ela era a princesa e ele seu cavaleiro, onde não existiam tiranos ou miséria, onde eles poderiam escapar. Assim que ele ficou sonolento, ela cantou uma musica e o afagou, até que ele dormisse em seu colo. Ela então apagou a luz do abajour e se deitou sobre ele, adormecendo logo em seguida. Logo depois eles sonharam que caminhavam em terras distantes e fantásticas, onde todos os seus problemas desapareciam.
Em memória de J.R, meu cliente querido, que de cima de uma ponte se jogou.
Em memória de J.R, meu cliente querido, que de cima de uma ponte se jogou.

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