Quando a dor lacera a minha carne, sinto a minha alma corroída pelo mais insuportável sofrimento. Uma estaca negra como a noite perfura o meu coração, que se enegrece em profunda necrose, enquanto em meu ventre, a mais instigante luxúria me compele não ao pecado, mas ao meu próprio sofrimento, que consome meu espírito e me devora todas as manhãs, quando acordo de meu doce sono, único lugar onde eu posso estar morta e descansando em paz. A dor me faz querer chorar, mas nenhuma lágrima escorre destes meus olhos, já que muitas lágrimas de sangue eu já chorei por aqueles que amei e que me deixaram desfalecida neste túmulo negro que se tornou minha vida. Minha alma violada, como uma roseira deflorada, vaga pela cidade negra, como um fantasma na névoa, tentando chorar uma chuva que não cai. Ando pelas ruas obscuras, enquanto a dor consome o resto de minha alma, dando lugar a um profundo niilismo, que torna os meus olhos ocos e vazios, enquanto eu enxergo toda a desgraça decadente a minha volta como se fosse uma doce ironia. Então eu comprimento as trevas, que são desde sempre as minhas melhores amigas, que sempre estiveram comigo na alegria e na doença. E antes que eu mutile os meus pulsos fazendo o meu sangue negro escorrer pelos brancos lençóis, eu sorrio macabramente, em meio a tamanha desgraça. Depois de tudo isso eu me deitarei, só eu e as trevas, neste leito terminal que me levará ao eterno sono e a minha libertação deste sofrimento.
sábado, 15 de outubro de 2016
sexta-feira, 14 de outubro de 2016
Quando a Noite Cai
Quando a Noite Cai
A lua cheia nasce entre os pinheiros
Iluminando o mundo com a escuridão
E de suas profundas Trevas
Uma Deusa se ergue
Contemplando o crepúsculo
Até o momento
Que a aurora irá nos levar
segunda-feira, 3 de outubro de 2016
Escrava de minha livre vontade
Entre o passado morto,
E o pensamento absorto,
Se encontra a chave do sofrimento,
Que se propaga nas áridas areias do tempo.
E o pensamento absorto,
Se encontra a chave do sofrimento,
Que se propaga nas áridas areias do tempo.
Maldito sejas, oh pensamento mórbido!
Que me faz uma escrava da minha própria vontade,
Em suas nuances sensuais, de auto-piedade,
Uma duvida cruel que só legitima a minha obscuridade.
Que me faz uma escrava da minha própria vontade,
Em suas nuances sensuais, de auto-piedade,
Uma duvida cruel que só legitima a minha obscuridade.
Oh pensamento eterno, que me atormenta,
Uma escravidão perene que me orienta,
A grande ilusão da liberdade da minha vontade,
Vontade livre que não passa de uma vil falsidade.
Uma escravidão perene que me orienta,
A grande ilusão da liberdade da minha vontade,
Vontade livre que não passa de uma vil falsidade.
Para viver é preciso morrer.
Morrer em vida e em lágrimas perecer,
Aprender com a inevitável morte,
Que o significado de tal insignificante existência é a arte.
Morrer em vida e em lágrimas perecer,
Aprender com a inevitável morte,
Que o significado de tal insignificante existência é a arte.
Desejos atormentam a minha carne,
Assim como os delírios atormentam a minha mente,
Enquanto eu me afogo num lago profundo de desespero,
Onde as luzes dos reflexos das estrelas brilham em um lampejo.
Assim como os delírios atormentam a minha mente,
Enquanto eu me afogo num lago profundo de desespero,
Onde as luzes dos reflexos das estrelas brilham em um lampejo.
O fogo do meu coração consome a minha alma,
E enquanto eu me entrego a tal paixão,
E enquanto o meu espírito se transforma em cinzas,
A minha vida se esvai, sem ser vivida
E enquanto eu me entrego a tal paixão,
E enquanto o meu espírito se transforma em cinzas,
A minha vida se esvai, sem ser vivida
A dor, floresce como uma rosa negra em meu peito,
Como uma dália obscura que nasce na lua cheia,
E que entre as bétulas negras tem o seu leito,
Me fazendo gemer de prazer e desespero.
Como uma dália obscura que nasce na lua cheia,
E que entre as bétulas negras tem o seu leito,
Me fazendo gemer de prazer e desespero.
Oh, minha deusa da noite, me responda:
Como parar a dor de ser prostituida pela minha própria vontade,
Sendo que ela mais absoluta luxuria, em um véu de castidade,
Sendo que tal vontade escraviza minha liberdade?
Como parar a dor de ser prostituida pela minha própria vontade,
Sendo que ela mais absoluta luxuria, em um véu de castidade,
Sendo que tal vontade escraviza minha liberdade?
Oh, minha nossa senhora das trevas, me diga:
Como viver neste eterno requiem,
Sem em meus sonhos me apegar a ninguém,
Sendo que para isso terei que morrer e não mais ser alguém?
Como viver neste eterno requiem,
Sem em meus sonhos me apegar a ninguém,
Sendo que para isso terei que morrer e não mais ser alguém?
Ou será que é no negro silencio,
Entre todas essas palavras que se encontra,
A resposta tão procurada em meu seio,
Que na morte de mim mesma, teria o seu feito?
Entre todas essas palavras que se encontra,
A resposta tão procurada em meu seio,
Que na morte de mim mesma, teria o seu feito?
Tal silêncio que tem em sua essência,
Como ao contrario de qualquer doença,
Um doce e eterno descanso,
Onde eu repouso ao fim deste pranto.
Como ao contrario de qualquer doença,
Um doce e eterno descanso,
Onde eu repouso ao fim deste pranto.
sábado, 1 de outubro de 2016
Reflexões sobre a Dor
A dor parece ser uma das realidades permanentes da vida, e durante toda ela, buscamos evita-la, do mesmo jeito que buscamos as realizações de nossos desejos. Mas estes desejos, quando não se realizam ou quando se realizam, trazem sofrimento para nós mesmos e para as pessoas ao nosso redor. O nosso eu esta cheio de desejo, e quanto mais ele deseja mais infeliz ele se torna, por não poder se autorrealizar. Quanto maior o nosso eu, mais agredimos as pessoas a nossa volta, causando cada vez mais sofrimento em nós mesmos e no mundo. Quanto mais egocêntricos nós nos tornamos, mais isolados nós ficamos, passando a ver a realidade com olhos cheios de desejo. Desejo de possuir a tudo. Devido a isso passamos a ver os outros de uma forma distorcida, onde eles sempre parecem possuir segundas intenções. Projetamos no outro, o inferno que nós mesmo vivemos. Desta forma não entendemos uns aos outros, apenas nos tornamos cada vez mais brutais, violentos, agressivos, aquisitivos, competitivos e construimos nesses moldes uma sociedade essencialmente doente. Mas nós nunca procuramos entender os outros. Parece que sempre quando nos direcionamos aos outros cheios de desejo, queremos usar, explorar, controlar, coagir e nunca entender, o que continua propagando o sofrimento. Mas, ao contrário do que muitos afirmam, a natureza humana (se é que algo assim existe), não se consiste apenas disso. Muitos de nós conseguimos sim nos colocar no lugar do outro através da empatia, assim entendendo as suas emoções. Através disso, podemos não só sentir o que o outro esta sentindo, como podemos compreender todo este sofrimento que sufoca as nossas vidas. Sentindo a mesma dor que os outros, nós podemos realmente entendermos uns aos outros.
Mas nós não entendemos a dor dos outros, apenas os julgamos através de nossos próprios olhos imperfeitos, através de nosso egocentrismo. Isto nos afasta mais ainda dos outros, criando em nós o medo de sermos julgados. Por isso não demonstramos as nossas fraquezas, pois através delas os outros podem nos julgar e podem nos explorar. Então nós nos isolamos cada vez mais, sentindo cada vez mais dor, e não compartilhando esta dor com ninguém. Dor que se compartilhada e entendida, levará ao entendimento, a justiça, a ética e a paz. Não estou falando de idealismos. A própria justiça e a própria paz são desejos humanos e o próprio bem é a ação de sentirmos a dor do outro. A pratica do entendimento da dor pode possibilitar a realização destes próprios ideais, mesmo que em pequena escala. Ou melhor, é nessa pequena escala que podemos começar a mudar alguma coisa. É nessa escala que podemos realizar algo verdadeiramente ético.
Segundo os budistas, o sofrimento é uma das constantes universais da vida. Eles acreditam que podem se libertar da dor atingindo o estado místico conhecido como Nirvana. Mas o Nirvana é a negação de qualquer desejo, de qualquer anseio de realização em vida. Aliás, o Nirvana termina com o ciclo de transmigração de Samsara, ou seja, quem o atinge não reencarna mais. Ou melhor, quem o atinge, morre. O Nirvana é uma morte iluminada, na verdade é a aceitação da morte de todas as coisas, não racionalmente e sim emocionalmente. Um estado realmente transcendental. Para alguém que chegou ao Nirvana, a própria crença na transmigração perde o sentido. Porem o que o budismo propõe é uma negação da vida comum e mundana, com os seus desejos e suas consequentes tristezas. Acredito que desejar pouco é realmente uma grande virtude, mas não desejar nada, é como morrer. O Nirvana nos nega o sofrimento, mas é sentindo a dor, conhecendo a dor e convivendo com a dor, que podemos conhecer o significado da própria vida. Não há sentido em atingir um estado como o Nirvana, se os outros não o atingirem. Eu acho que em meio tanto sofrimento, fazer algo para aliviar o sofrimento de outras pessoas vale mais apena do que simplesmente fugir de todo o sofrimento da vida em direção a algo que transcenda esta vida. Aliviar os sofrimentos uns dos outros e tentar chegar neste estado de iluminação juntos me parece mais importante, assim como pensavam os Bodhisattvas como Kuan Yin. A dor não morre, ela precisa existir para que haja o entendimento desta dor, sendo que no entendimento desta dor no outro, leva a humanidade a transcender seus simples egos, e a criar uma verdadeira identidade coletiva, ao contrário de todos os projetos de utopia que apenas pensam em sacrificar almas para a sua realização. O verdadeiro transcendentalismo não transcende a nossa existência, o verdadeiro transcendentalismo é entender a dor do outro como se entende a de si mesmo. Isto se chama amor.
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